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III Jornada Nacional da Juventude Sem Terra




O MST organiza sua 3ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, no mês de agosto, para estimular a construção de debates e espaços de organização da juventude. A jornada abre espaços de discussão dos jovens dos acampamentos e assentamentos do Movimento, desde questões do cotidiano, a participação na organização e o papel da juventude como força política de transformação. Assim como afirma o coordenador de Juventude do MST, Raul Amorim: "A criatividade da juventude é fundamental para transformar as relações sociais e criar uma nova sociedade". E é de forma criativa e participativa que o MST pretende dialogar com os jovens ao longo dessa jornada. São os próprios jovens que definirão sua pauta, e para além de reuniões e plenárias formais os jovens poderão participar de várias atividades como oficinas de fotografia, música, teatro, torneios esportivos, entre outros. 

Segue abaixo a entrevista completa com Raul Amorim. Mais informações sobre a jornada em Página do MST


Qual o objetivo da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra?

O objetivo da jornada é estimular a organização e o processo criativo da juventude, além de criar momentos de formação, com debates sobre temas mais amplos - como a globalização e o funcionamento do agronegócio - até temas do dia a dia dos jovens, como a diversidade sexual, aborto e questões de gênero.

O elemento novo dessa jornada é o seu caráter consultivo. Não há uma programação dada pelo Movimento. A jornada abre espaço para debates sobre a realidade e trocas de experiência.  Por isso, não debatemos o que o Movimento quer de sua juventude, mas o que a juventude quer com o projeto de Reforma Agrária.

Que tipo de ações devem acontecer durante a jornada?

Há uma diversidade de ações possíveis. Os acampamentos de juventude, por exemplo, são espaços para os jovens se organizarem, realizando debates e encontros. Também ocorrem atividades dentro das escolas, como torneios esportivos, de futebol, vôlei, xadrez, e seminários para debater a agroecologia, os desafios da juventude e nosso projeto de Reforma Agrária.

Além disso, vamos ter oficinas de teatro, música, audiovisual, fotografia, rádio, que ajudam a estimular uma criação da comunicação popular e uma reflexão sobre o tipo de comunicação hegemônica que temos na nossa sociedade.

Por fim, vai haver um momento de luta, onde as oficinas serão transformadas em elementos de agitação e propaganda, dando a identidade da juventude nas lutas.  A jornada tem um caráter interno, mas ao mesmo tempo nós construímos esse dia de luta, no qual a nossa juventude vai se juntar com outras organizações de juventude do campo e da cidade para se mobilizar.

Quais os temas serão discutidos na jornada?

Um dos principais temas da jornada é a educação, principalmente as escolas no campo. Dentro da investida do agronegócio e do neoliberalismo, há um claro projeto de redução da população camponesa. Isso teve como reflexo um sucateamento das escolas no campo. Quem mora no campo e precisa estudar é obrigado a se locomover para a cidade. O nosso embate vai  no sentido de construir um modelo de educação para o campo e para a juventude camponesa. Não queremos só o acesso a educação, mas uma educação voltada para o campo.

A dificuldade que as escolas enfrentam são grandes: 94% delas não tem internet com banda larga; 15% não tem energia elétrica e 50% dos professores não tem graduação. Pensar a educação do campo é pensar no tipo de escola que queremos para formar o campesinato.  Na jornada, estamos estimulando que a juventude tenha consciência do seu papel. A construção da educação no campo perpassa pela auto-organização da juventude, seja em grêmios, grupos de teatro ou conselhos de classe, que agreguem professores e direção para a construção de uma educação no campo de qualidade.

Mais temas são debatidos na jornada?

Um tema importante é o trabalho com geração de renda, que além de visar a autonomia dessa juventude, possa promover o protagonismo, não só dentro da estrutura familiar, mas também na construção dos assentamentos. A juventude deve pensar que tipo de assentamento quer e se inserir no processo produtivo e político dos assentamentos, como na luta pelas agroindústrias.

A jornada mostra o espírito de luta da juventude, que precisa se organizar tanto internamente como com a juventude de outros movimentos do campo ou da cidade. A juventude é um ator político, que pensa os novos desafios impostos pela luta de classes.

Qual a importância da organização da juventude no MST?

Toda geração tem o direito de pensar seu tempo com a sua força, a partir da sua realidade. A juventude precisa conhecer seu papel. Esse processo de organização não pode ser paralelo ao da luta de classe ou das organizações políticas.

Os jovens do campo, segundo dados oficiais de 2010, totalizam 8,1 milhões de pessoas. Destes, 2,4 milhões se encontram em extrema pobreza. A classe dominante utiliza isso para criar uma leitura da realidade de que o desenvolvimento da sociedade está na cidade, e o campo é atrasado, o que causa a migração para a cidade.
Mais de 40% da juventude na cidade também se encontre na pobreza. Se a maioria da juventude se encontra nessas condições, debater o papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na juventude, que não está dissociada das condições impostas pela luta de classes.

Nesse sentido, a organização da juventude serve para potencializar a reflexão da realidade, a formação política, a diversidade de conhecimentos. Deve ser um espaço de amadurecimento político para enfrentar a nova fase do capitalismo financeiro, aliado aos bancos e empresas transnacionais. Não é um processo a parte da luta de classes, mas um momento de preparação, que estimula a criatividade da juventude. A criatividade da juventude é fundamental para transformar as relações sociais e criar uma nova sociedade.

Como a juventude pode contribuir para criar novas formas de luta política?

Na recente organização da juventude, acumulamos bastante no espaço da agitação e propaganda, porque é onde trazemos os elementos artísticos e da comunicação. Para isso, é preciso ter criatividade. Um exemplo importante é a luta do Levante Popular da Juventude, movimento ao qual nos somamos, que usa o elemento criativo do esculacho para realizar suas ações. Isso mostra que as formas de luta não estão paradas. A juventude pode contribuir na criação de formas diferenciadas e criativas para enfrentar o capital.

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